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segunda-feira, 4 de julho de 2011

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Ando com saudades do mundo...
Ando com saudades do tempo em que minha casa era um abrigo
e que o cobertor protegia do frio.

Mas o teto solar está com defeito
e nunca mais fechou.
Assim, fico exposta às intempéries
e minha casca calcárea se foi
pois estou em plena ecdise
e meu corpo mole é um prato cheio para os predadores.

Eu não queria usar armadura
queria andar nua como os bons selvagens
sem nem mesmo um protetor solar
mas a gente precisa da redoma.

A árvore precisa da casca
o núcleo precisa da carioteca
senão ele se dispersa no
meio do citoplasma
e perde sua identidade, seu RG.
E depois tem que mandar fazer
segunda via
e dá um transtorno danado!

Esse poema é um enfado!
Pura púrpura porejando pedra.
Pura falta de bom senso.
Puro odor de incenso
impregnando a casa de fumaça.

Quem me dera ter uma barcaça
que me conduzisse a um redemoinho ninho
moedor de desalinhos
e realinhador de trilhos descarrilados.

Quem joga os dados?
Quem orienta o jogador
a jogar jogos tão estragados?

Quem mofa o bolor dos trapos
e quem dá bom dia aos cavalos?
E qual cavalo relincha o espasmo
da posta mesa de espuma?
Quem salpica a grama de orvalho
e dispõe as nuvens em gazes?
Quem flatula uma nuvem de gases
e toma remédio pros ossos
pra não fraturar a faringe?
Quem faz e quem finge?
Quais dos nossos são seus
e quais dos seus são nossos?

Eu vou fazer um estrondo
e desmanchar sais e roncos.
Da árvore o tronco
e da copa as folhas.
Dos galhos os mesmos
e dos cantos cansados
e dos olhos molhados
e das lágrimas caídas
e do rio salgado
e do leito no rosto
e das margens,
folhagens.

A primeira, a terceira,
a quarta margem
tornando o rosto enrugado com tantos sulcos
de tanto os olhos vazarem sucos
de tanto os loucos cucos
arrotarem as horas a todo instante
como se estivessem bêbados
e não conhecessem os parênteses.

Tempos passados, tempos presentes
tempos futuros e tempos ausentes.
Temos sementes de dentes
e presentes ausentes
como pentes sem dentes
e olhos sem lentes.
Portanto,
olhos nus
como o olho mais cru
que temos entre dois montes de banha
duas saliências que acolchoam o sentar
aparando as arestas setas
arredondando as retas.

Cuidado pra não derrapar na curva!
Olha a aquaplanagem!
Olha o rio de veias
Olha o baixo relevo.
Não me atrevo
a prosseguir viagem.
Me despeço como o vento
que espalha a friagem
e o pólen
e o pó
sobre as calçadas escarradas.

Um comentário:

Luis Eustáquio Soares disse...

belo poema-vento desafiado a assumir de vez o cosmos...
beijos
luis