NOS BECOS DA WEB...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sou um girassol num universo de muitos sóis. Mas cada sol não coexiste ao lado de outro sol. É assim: um sol morre e segue um longo período de trevas, minhas pétalas murcham. Mas eis que surge um novo sol e eu volto a fazer fotossíntese.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Escorpião

O queijo está logo ali.

Junto com ele, o desejo.
Mas o rato é estúpido demais
para ver
a
ratoeira.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

quando ele me perguntou
se eu queria sair do ude-grude
dei-lhe aquela resposta rude
na mais coerente atitude
que um ciborgue poderia ter

- mas vc vai ficar
só nessa vida de blogue?

ao que eu resolvi o imbróglio
dando-lhe uma cusparada na cara
e bofeteando-o com a bíblia do Debord:

do ude-grude eu sou a Rainha-mor.

domingo, 11 de abril de 2010

Privatização

todas aquelas vísceras metralhadas, as balas alojadas naquelas tripas longilíneas, o sangue escorrendo feito um melado pelo chão, o continente que não contém mais todos aqueles odores fétidos, gases nauseabundos fazendo pressão, o esfíncter é o ego fecal, indeciso entre o ventre e a privada (que, com certeza, é uma das melhores invenções da humanidade), essa goela ávida e gulosa sempre a sorver nossos mais podres produtos, como uma santa purificando nossas lastimáveis mazelas: viva o vaso sanitário, privativa iniciativa privada, privatizada para nos proteger das nossas mais íntimas situações, sendo o inverso do universo da analogia.

Sinto muito

Pedro Einstein, aceitei seu comentário, mas como estava logada em outra conta do gmail, ele se perdeu. Espero que compreenda e, se quiser comentar de novo, eu aceito novamente.

Posta

Posto que post, posto essa posta de peixe, essa bosta em feixe, esse porco enfeite. Como cheguei a esse ponto? Em ponto de bala, posto o ponto final.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Escrever: escravidão

O ato de escrever, do qual sou escrava, impõe-se soberanamente à sua serva, servidão de palavras: visto meu avental, caneta em punho, a caneta é um punhal que apunhalo na folha macia do papel, eu estupro o papel com a fálica caneta, o papel branco de pureza, qual uma virgem - sei que é paródia - eu apunhalo freneticamente o papel, como se quisesse assassiná-lo. Escrever é um ato de violência. Quem lê nunca fica imune.

domingo, 4 de abril de 2010

Fina e nossa

Em tudo eu sinto o gosto de nada
de sorvetes ocos, limonadas
de escassos limões, e mais e mais água
nessa antifesta
que é domingo de Páscoa
tecida com milhões de ocos ovos de chocolate
na sua concavidade
anticonvidativa:

Chocolate
que será
digerido
e
devidamente
processado
pelo tubo digestivo
e então
eliminado
numa diarreia universal.

E o manto de fezes de chocolate cobrirá o globo
com suas ondas marrons
e
nauseabundas
e
quem sabe
assim
afunda
nossos
mais
rasos
anseios
por
endorfina
(adquirida
tão
precariamente,
por chocolates
de má qualidade
que eles envolvem
em papéis coloridos
e brilhosos
e vendem
como se ouro fossem).

Ouro fosco
metamorfoseado
em cocô áureo
(dinheiro é convertido em
chocolate
que
se transforma em
fezes).

Dinheiro compra fezes.

Fezes douradas
que são o
resíduo indesejado
da nossa busca
por um
pouco
de
endorfina.

Endorfina
Endorgrossa
Exótica
ou
menina
Ela é um pouco minha.
Ela é um pouco nossa.

Pequena reação química
desatada
por pequena dose de açúcar via láctea
por heroína direto na veia
por espasmos freneticamente alcançados
e sempre
nos deixa
pasmos
diante do
abismo.

Pequeno sismo
subcutâneo
e
intracrânico.

Deusa-mor
e breve
sempre desejada
constante
e sucessivamente
ativada
por cada
trago
sem embargo
da sensação de tonteira
que a maré está cheia
e a nau balança
e assim o enjoo
os olhos baços
a pança cheia
o nó no laço
a náusea sã
da nau maçã
mordida crua
e o suco escorre
por entre os dedos...

Doce degredo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Zoosfera (ignorando o aspecto lendário da data)

A internet é um verdadeiro zoológico humano: cada blogueiro / twitteiro / etc na sua respectiva jaula, aberta a visitação. Afinal, como disse Dawkins, na esteira de Darwin, embora algumas pessoas se considerem "mais etéreas" do que os outros animais só porque tem a faculdade de raciocinar, somos, todos os seres humanos, tão evoluídos quanto os chimpanzés (e menos que as jurássicas tartarugas). O fato de sermos capazes de abstrair de várias maneiras, as quais julgamos mais ou menos complexas (de acordo com nos diferenciarem mais ou menos dos demais animais, conforme o caso), não nos põe num degrau superior numa escada rumo à divindade. Mas nos achamos o máximo porque temos mais células que uma ameba, que no entanto pode nos destruir facilmente, ou no mínimo causar uma boa dor de barriga! Viva a ameba, o musgo e o fungo, e abaixo o especismo!

Apesar dos parênteses no título, sei que para muitos isso soará mera brincadeira (e ainda por cima de mau gosto!), blasfêmia, lorota, contrassenso, ou seja lá que nome queiram lhe dar os sem-intestino que são tão puros rumo à sua divindade, que sequer defecam, o que é coisa de seres inferiores!