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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O mel de Manuela

Qual a arma
da tua luta?
Com que venda
te negas a ver o embuste?
Qual azeite amargo
lambuzou o leite doce
vindo das tetas do fóssil?
O sêmen frutifica espelhado
e assim o embrião já nasce com reflexo
do ego
do gozo
do Bozo
do fosco arame de prata cálida.

O mel é despejado em jarras
para deleite da turba que adora o deus mel
que só é deus porque mela tudo
colando as fotos nos fatos
desesfarelando num amálgama pastoso a farofa.

O deus mel que brotou do chifre do unicórnio
Fato que foi alardeado através de uma corneta
soprada por aquele a quem batiam punheta
no exato instante em que ele soprava a corneta
E de repente o mel foi despejado na corneta
Tendo esta se convertido em mamadeira.

É a festa do mel que tudo mela
mela a panela
mela a janela
mela a remela
e remela a Manuela.

Os elos dos brincos
já estão sem trincos.

A janela trincada é remendada com remela.

O mel que tudo mela remela a Manuela.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pós-leitura de Deus, um delírio

Eu disse que vinha aqui dar meu parecer depois que acabasse de ler Deus, um delírio, de Richard Dawkins. Pois bem, aqui estou. Antes de mais nada, gostaria de lembrar que, como disse Derrida, só dialogamos com quem achamos que é relevante fazê-lo. E respeito muito e admiro o Dawkins.

Racionalmente, estou convencida. Mas, como disse o próprio autor desse livro que tanto tem tomado a minha atenção: "Não quero desprezar os sentimentos humanos. Mas deixemos claro, em qualquer conversa, sobre o que estamos falando: sentimentos ou verdade. Os dois podem ser importantes, mas não são a mesma coisa."

Mais adiante, o próprio Dawkins diz que o que é "verdade" para um ser humano não necessariamente o seria para um morcego, por isso prefiro substituir o termo "verdade", no trecho de Dawkins, por "razão", se é que faz tanta diferença assim, pois, novamente, o que é "razão" para um ser humano poderia não sê-lo para uma toupeira.

Continuando: razão e sentimentos, temos que conviver com essas duas dimensões, não podemos simplesmente abolir uma ou outra, e essas duas dimensões geralmente são ambíguas e inconciliáveis: daí nasce o barroquismo, o paradoxo da existência humana.

O que dizer, por exemplo, a um amigo que sempre se julgou ateu e de repente tem um sonho premonitório? Como a seleção natural explicaria a premonição? Simplesmente falar em questões de probabilidade encerra qualquer raciocínio?

Bem, já mencionei "sexto sentido" justamente quando falava de Deus, um delírio. Os bons fluidos que sinto receber de vez em quando, e que de maneira nenhuma consigo manipular, eu os senti até durante parte da leitura de Deus, um delírio, afinal, uma pergunta de Dawkins me chamou muito a atenção: "E se Deus for um cientista?" E ele completa dizendo que alguém que criou um universo dessa magnitude, cheio de leis que denominamos "leis da física", para ficar só na física (uma das secções que fazemos da realidade. Outra secção seria a biologia, por exemplo), só poderia ser um cientista.

Enfim, gosto do Dawkins porque ele me faz pensar. E considero Deus, um delírio um importante instrumento de libertação.

*                *                *

Obs.: quanto ao argumento do "sexto sentido" e "bons fluidos", claro que estou ciente que é um dos tipos do que Dawkins considera "argumento da experiência pessoal", que, segundo ele, não necessariamente convence ninguém.