NOS BECOS DA WEB...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Moralismo nojento

No site do Yahoo! (que não está me pagando nada pra que eu o divulgue, e aliás geralmente só publica banalidades) está disponível hoje o vídeo-entrevista "2 Chopes com Simone Spoladore", e abaixo do vídeo há uma nota que fala de sua personagem lésbica que se apaixona por um travesti, personagem de um filme que não tem nada a ver com a novela que ela faz ou fará (porque não perco meu tempo vendo novelas pra poder saber) na Record, mas as pessoas nem vêem o vídeo e saem confundindo o filme com a novela, e saem publicando comentários ultraconservaores como "do ponto de vista da moral isto é contra a dignidade humana.........................................", comentários que não são retirados do site, mas o meu comentário "grande Simone! agora que ela saiu da Globo sou ainda mais fã dela! Excelente sua atuação no filme Lavoura arcaica! E o que fere a dignidade humana é o preconceito moralista e predatório!" está sendo retirado o tempo todo! Imagino o que o site do Yahoo! não deve estar recebendo de comentários não publicados acerca do meu comentário pra retirá-lo o tempo todo, já que estão sendo publicados comentários com "fervor cristão" reclamando do bispo (que também é cristão, mas de facção diferente da do comentarista) que empregou atriz que "se submeteu a tal papel", ainda que este papel - imagino - aparentemente não tenha nada a ver com o papel da novela que ela faz na Record.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Despedida

Minha cachorra já tinha operado umas quatro vezes, a primeira vez para retirar um tumor benigno que poderia vir a crescer muito e atrapalhá-la, uma das vezes para retirar o útero e ovários, na última vez para retirar um dos cordões mamários (dessa vez era câncer mesmo). Já tinham aparecido novos caroços nela depois da última operação, e depois dessa mesma última operação, ela voltou com uma respiração ofegante (minha ex-professora de Tai-Chi Chuan - "chi" é respiração - já tinha dito numa de suas aulas que os bebês e animais normalmente respiram pelo abdômen, e não pelo tórax, pois a respiração pelo abdômen é a respiração natural e assim sempre deveríamos respirar), notei que ela estava respirando pelo tórax logo depois que ela voltou da cirurgia, e ela há muito tempo já tinha sopro no coração, e seu coraçãozinho deve ter sido muito afetado por esta derradeira cirurgia, pois um exame detectou que a situação estava bem grave. Quando ela estava boa, passeava todos os dias na rua umas três vezes por dia, nos últimos tempos nem saía de casa mais para passear, mesmo dentro de casa ela mal andava, estava toda molinha.

Um dia, todos nós sofrendo junto com ela por toda essa situação, ela estava quietinha deitada no seu canto e eu sentada lendo de onde podia observá-la de perto, de repente ela olhou pra mim e deu uma gemidinha prolongada. Eu não fazia ideia do que ela estava sentindo, chamei-a para dar uma pequena volta pela casa, então a minha mãe a pegou no colo e disse que ela não podia fazer nenhum esforço por causa do coração, nem mesmo uma pequeniníssima volta que achei que fosse distraí-la. Minha mãe se sentou no puffe da sala com ela no colo, o corpinho dela estendido apoiado em suas pernas. E eu me sentei numa cadeira e a Frida, minha cachorra, ficou um tempão com os olhos pousados em mim, enquanto minha mãe conversava comigo. Um pouco depois disso, nesse mesmo dia, minha mãe a achou estendida no chão, desfalecida, perto dos jornais sobre os quais ela fazia suas necessidades. 

Vai ficar pra sempre na minha memória esse olhar derradeiro que ela pousou em mim, olhar doce e meigo, com a expressão mais linda que ela poderia me presentear em seu último dia conosco. Olhar demorado, olhar iluminado, como se - já diz a sabedoria popular - ela fosse um anjo prestes a retornar ao céu, e essa fosse sua forma de me passar uma mensagem. Mensagem linda, por sinal, que, como já disse, nunca vou esquecer. Obrigada, Frida, por ter se despedido de mim de maneira tão doce.

(Minha carroça, digo, meu PC está tão lerdo que não consigo fazer upload de uma foto dela pra vocês terem uma ideia da meiguice desse olhar de que tanto falei e que tanto me tocou).


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pós-túmulo

Quando nasci, um anjo canhoto
rabiscou todo o meu poema,
amassou a folha e a jogou no lixo
e disse:

vá viver seu rascunho
e não ouse passar a limpo!

Mais tarde, engatinhei até a lixeira
e de lá tirei o novelo pautado.
Desembolei a folha
e nela estava escrito
em letras garrafais
e linhas tortas:
"Libertas quae sera tamen"
ou seja:
Liberdade, ainda que no além.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O papel e seus pilotos

Eu queria sair escrevendo qualquer coisa, pelo simples prazer de riscar o papel... Para as futuras gerações, explico: "papel" é uma lâmina feita de celulose e água, por isso é duplamente anti-ecológico (por isso que entrou em extinção e vocês não sabem mais o que é. Como na minha época algumas pessoas não sabem o que é papiru e / ou pergaminho. Ao contrário do que você poderia imaginar, "papiru" não é um nome pornográfico. É o ancestral do papel, que é o ancestral da tela de cristal líquido. Apesar de líquido, o cristal líquido não é feito de água, por isso não é tão anti-ecológico quanto o papel e por isso o substituiu). Como com tudo na vida, as pessoas desviavam a verdadeira função do papel e faziam aviões de brinquedo com eles, que ficavam dançando no ar mais ou menos como essas folhas que caem das árvores e ficam indecisas em irem direto pro chão. Alguns aviões de papel faziam malabarismos e cambalhotas no ar, deviam ter pilotos aventureiros e viciados em adrenalina. Quanto mais aventureiro o piloto, maior o sucesso do avião de papel em atrapalhar a aula das professoras. Ah, você também não sabe o que é professora? É que antigamente não havia internet, então eram as próprias pessoas quem transmitiam o conhecimento umas às outras, e essas pessoas que trasmitiam o conhecimento eram chamadas de "professoras". Todo mundo era um pouco professor, como ainda é até hoje (hoje quando?).

Voltando ao papel, ele era um instrumento que não tinha um teclado imbutido, como os computadores têm. Então as pessoas usavam primeiro uma pena de ave molhada no nanquim, que é uma tinta que as lulas soltam, e depois passaram a usar canetas esferográficas, que tinham esse nome pois tinham uma pequeniníssima esfera em sua ponta que ia rodando no papel e soltando a tinta aos poucos.

Outro dia conto mais sobre a pré-história pra você, meu filho. Por hoje é só, pois você já está embalado nesse sono e nem me ouvindo está mais. Boa noite. Durma com os anjos, que são seres alados que têm bochechas rosas e sopram sonhos nos nossos ouvidos, aí eles (os sonhos) rodam na nossa mente feito filme em 3D.

sábado, 8 de outubro de 2011

Só por consideração aos meus escassos leitores digo que já não tenho voz pra cantar, por isso pretendo dar um tempo com este blogue. Digo "pretendo" porque já tentei interromper esta atividade outras vezes, sem sucesso, pois minha ânsia de escrever e minha ânsia de postar me impediram que eu realizasse meu intento. Talvez vocês agora possam saborear um feijão sem ter que mastigar a pedra, digo, talvez minha ausência seja bem-vinda. Não sei quando volto, talvez amanhã, talvez daqui a dois anos, talvez nunca. Por isso agradeço a quem compartilhou comigo este espaço.