NOS BECOS DA WEB...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Show de Bola

Sabe, acho que há uma certa luta de classes ofuscada no futebol carioca. O torcedor negro, pobre, morador da favela (pois há um preconceito classista contra os flamenguistas, sim, chamados de "favelados" e "trombadinhas") que reúne todas as suas forças para apoiar um time de forte apoio popular como o Flamengo, cujos jogadores sempre dão duro no campo, ainda mais quando se trata de uma partida contra seu principal adversário, o Vasco, que por sua vez representa os portugueses descendentes dos antigos senhores de engenho, que escravizaram os negros que hoje são torcedores do Flamengo. Desculpem-me se alguém já falou isso antes, não procurei ler nada a respeito e ignoro anterior análise sobre o assunto. Continuando, é até conveniente para as elites que o Flamengo ganhe sempre (como os flamenguistas não se cansam de dizer), pois, assim, a luta de classes se resolve no campo e não toma proporções "indevidas". Os torcedores, representando suas respectivas classes (um torcedor de classe média que opta pelo Flamengo toma o partido do "povão"), ao direcionarem todas as suas energias para o futebol, apaziguam a luta de classes nos demais campos sociais.

Claro que não é tudo "preto no branco", e pode haver um torcedor flamenguista e elitista, pois dissocia o futebol de sua dimensão social.

Indo um pouco mais fundo, a insurreição flamenguista contra o vascaíno português (pleonasmo), pode ser vista como uma legítima revolta da população brasileira, já constituída com o acréscimo do elemento africano, contra as elites europeias (neo)colonizadoras, representadas por Vasco da Gama.

O mesmo se dá na rivalidade futebolística entre Rio e São Paulo. O carioca, visto como "farofeiro", ou seja, do povo, contra a elite industrializada de São Paulo.

Talvez seja por isso que o futebol seja tão importante economicamente. Ao direcionar toda a energia da população mundial para as disputas nos gramados, os grandes empresários do esporte "põem panos quentes" na luta de classes, amortecendo os conflitos (que ficam reduzidos a meras guerras - demasiadamente infantis - entre torcidas) e aquecendo a economia global com o constante espetáculo do futebol.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Conversa pra boi dormir

A Globo quer mesmo que acreditemos que a economia dos EUA mudou nos últimos dez anos por causa do atentado de 11 de setembro de 2001? Foi isso que a Míriam Leitão deu a entender hoje de manhã... Tudo isso pra não falar mal do capitalismo? Pra não falar que ele é autofágico e ele mesmo é a causa de seu próprio fracasso, com suas crises de superprodução? A economia dos EUA já vinham declinando há muito tempo, muito antes desse atentado... Também, com toda a miséria que é necessária haver para existir o capitalismo, quem vai consumir tudo o que eles produzem? Não era necessário ser nenhum gênio para perceber que a economia do mundo já vinha declinando no ano 2000... nesse ano minha tia comprou um carro, e nem pagou tanto assim, e ela perguntou: "Que dia eu posso vir buscar?", e eles responderam: "Não, a gente entrega na sua casa...". Tanto esforço em agradar o cliente, ainda mais o cliente tendo pagado um preço abaixo do valor "real" (ou o carro que estava supervalorizado, para gerar lucros hediondos?), só pode ser suspeito...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Blogagem coletiva: a ficção e o que podemos fazer para essa ficção não continuar sendo uma tragédia

A noção de nação é uma ficção. Pessoas que acreditam ter o suficiente de características em comum para constituir uma nação sustentam essa ficção. É só formar um exército para defender as fronteiras delimitadas por linhas geográficas imaginárias, fazer uma lavagem cerebral para que as pessoas acreditem mesmo ter as tais características em comum suficientes e... temos uma nação!

Mas, já dizia Goebbels, uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade. E como pessoas demais acreditam nessa ficção, temos que respeitar essa crença se quisermos ver efetuadas as nossas garantias que teríamos naturalmente se ainda fôssemos, por exemplo, uma sociedade de subsistência, como éramos antes dos europeus aqui chegarem e imporem seu modo de vida.

Estou querendo dizer que devo ser mais prática. Vamos supor, por exemplo, que sejamos cerca de 190 milhões de brasileiros regidos por uma República Federativa, que se diz democrática (e não o é), representada no momento pela presidenta Dilma Rousseff. Então, já que estamos todos alucinados e acreditamos nessa ficção, temos que ver nossos direitos básicos garantidos, de acordo com o que diz, por exemplo, nossa Constituição.

Estou escrevendo este texto como resposta à proposta da blogueira Van, do Retalhos do que sou. Então vou focar exclusivamente numa questão específica para que vejamos garantidos nossos direitos básicos, como cidadãos brasileiros: a questão da regulação dos meios de comunicação.

Porque, enquanto não tivermos essa tal regulação, seremos governados pela grande mídia e não por quem elegemos de fato para nos representar, e, enquanto não tivermos essa tal regulação, só veremos nossos representantes de fato como a grande mídia quiser que os vejamos, pelos ângulos que eles querem que vejamos.

Então é isso. Acho que esse talvez seja o início de algo que poderemos chamar verdadeiramente de democracia, ainda que a democracia fictícia de uma nação fictícia - como todas as nações - e, talvez, se agirmos localmente, dentro dos limites imaginários de nossa nação, talvez um dia possamos agir globalmente.

Só quando nos livrarmos dessa ditadura - a ditadura exercida pelos meios de comunicação (obviamente que não estou falando de um meio de comunicação como este blogue, praticamente irrelevante em termos de números de leitores. Estou falando de uma mídia mais abrangente, a chamada "grande mídia") - poderemos começar a sonhar em ver nossos direitos básicos garantidos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A não-posse é uma posse

Estou fazendo o que eu posso
Ou melhor, o que eu não posso
com minha falta de posses.

A obsessão da possessão
Possui o mundo.
E quem possui
a falta de fundos
se esfalfa
e é excluído
e é imundo.

Mas é também um consumidor
num mundo em que se vendem créditos
e se afunda em dívidas
multiplicadas por juros inéditos.

Possuir a não-posse
é também possuir
e é ser vítima de si mesmo,
pois quem mandou acreditar nessa ficção
que é a propriedade privada?

domingo, 4 de setembro de 2011

Pureza Tóxica

Tanto sangue
se derramou em seu Nome
que já não sabemos
se seu Nome é santo, como se diz
Ou se você veio de Marte.
Não se pode matar
em nome de uma causa sã
e seu Nome justifica
tantas torturas
que já não julgamo-Lo digno
de nos levar às alturas.
Como se sobe tão baixo?
Como se eleva tão raso?
A Causa Pura é pestilenta
Tão pura quanto uma higiene neonazista:
Não derramamos mais sangue.
Criamos a câmara de gás
para matar sem derramar sangue.
Assim se varre a sujeira para debaixo do tapete.
E viva a tortura
em Nome de uma Causa Sã:
Causa Sã gue.

sábado, 3 de setembro de 2011

O navio branqueiro

Senhor Deus dos desgraçados!
Respondei-me vós, Senhor Deus:
quantos bois são necessários
para embranquecer o açúcar
que adoça meu café
nessa manhã em Jardim da Penha?

Pra quê tanta carnificina?
Porque não gostamos da aparência do que é escuro
(é bobagem falar em racismo aqui e agora?)
clareamos o açúcar que adoça nossa boca
com ossos de bois moídos
- e fodam-se os bois
que doaram sua vida, sua carne e até seus ossos
pra alimentar o doce racismo nosso!

Gados! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei as várzeas, tufão!...

Quem são estes desgraçados,
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a várzea à pressa se alaga
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!

São os bois que pastam nos campos
ou talvez só se alimentem de ração!
São castrados - uma violência a mais!
E os alimentam para que tenham uma carne tenra e saborosa
que será vendida no açougue.
Sua pele virará o couro
de que é feito as bolsas, cintos, sapatos e demais acessórios
de homens e mulheres.
E, como tudo tem que dar lucro,
vendem até os ossos,
que serão moídos e embranquecerão
o doce açúcar do Gullar em Ipanema.

Mas são reles bois - dirá o especista / humanocêntrico.

Podem eles sofrer? Podem eles não terem o logos? Podem eles não poder?

Hoje tomei duas xícaras de café sem açúcar nem adoçante -
não estava a fim de comer pó de osso de inocentes e dóceis vítimas.
O café ficou indigesto.
Mas minha consciência ficou limpa.
Cedo, cedo, muito cedo mesmo, senti sono - será a falta do açúcar?
Vou descobrir como me manter numa vigília digna desse nome o dia todo
- e sem comer açúcar!