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terça-feira, 17 de maio de 2011

A luz que, ainda como mínima faísca, pode alcançar o poço mais profundo

Eu queria não ser amarga
e me amar
mas o mar é imenso
e as flores chovem pétalas quando sacudidas intensamente
dispersando o orvalho que as cobria
como inúmeras picadas de ofídeas criaturas
e cada gota, do tamanho da cabeça de um alfinete
espeta a pele sensível que me recobre
e me deixa em carne viva.
E é tão triste ser carne.
E é tão triste estar viva.
No solo árido brota uma ferida
que sangra rios escarlates
e solta pedaços de carne moída
que foi moída para que se fizesse com a carne
o mesmo que já tinham feito com a alma,
que escorre em filetes pelo moedor
até agora
e de sua carne etérea
vai porejando uma água
turva como a dos rios poluídos
e os andrajos que me cobrem
já estão puídos.
E tudo o que eu ouso falar
não passa de ruído
roído por dentes afiados de uma ratasana enorme
que escapou do esgoto
para desgosto dos seres humanos
que são desumanos como caspa
e se esfolam nas paredes ásperas.
Abra as aspas,
que eu vou citar um crocodilo
para ciúmes
do rinoceronte.
Eu rastejo feito um réptil
num lodaçal de desgraças.
Mas, se eu tiver, como Dante,
uma Beatriz,
não como minha amante,
mas como magna guia infante,
quem sabe ela não me inspire a sair do Inferno?

Um comentário:

Karina Lerner disse...

demorou, mas eu compreendi. o inferno, querida, são realmente os outros. não nós. não o q há dentro de nós. mas o que falam e julgam por aí através do nosso exterior. como vc própria disse, a luz, ainda como mínima faísca, pode alcançar o poço mais profundo. abra bem os olhos, repare, e vc encontrará o filete que procura e q te mostrará o caminho de volta. bjs, k.