A tela tecida
com nós e cadarços
é a rede vazia
do anjo em andrajos.
Deus está nu
e o Rei tem trapos
que tapam o cu.
Se a veste é dourada
e a íris rosada:
a rosa-dos-ventos
numa lufada.
O lúpus que luta
com a pele mofada
é pérola descamando
da lepra encarnada.
E cada lótus
retrai-se em fatos
molhando as vestes
dos distraídos.
A roupa que cobre a pele
é véu que desvelamos
a quem nos revelamos
e amando
nos cobrimos
de corpos.
Cai um copo
e os cacos se espatifam
em doces rasgos
de vitrais quebrando:
a rosa-dos-ventos
desfolhada pela rajada
caiu no cimento
onde foi pisoteada
pelos pés descalços
dos andarilhos.
A vida do trilho
se descarrila
o anjo em andrajos
se descabela:
o mel na panela
é feito um suco
e o musgo da janela
floresce nos sulcos.
O sumo é ácido.
O véu, ventila.
O vento, farinha.
Faz casinha
que eu vou acender
um fósforo:
não venta aqui
vai lá pro Bósforo.
E a rosa ventou
essa canção.
Se faz sol,
eu abro o guarda-chuva
pra regar as ideias.
Se faz mel,
eu te chamo de abelha
e te faço colmeia.
Um comentário:
"e te faço colmeia", porque uma abelha sozinha não faz o mel dos ventos, nos cabelos da dança sem fim dos territórios de voar, cantar, desejar, amar.
e aí está, no "teto", a doçura do tiro do eu-lírico de seu poema, doçura de convites revolucionários, ainda que ternos, é ternos.
b
de la mancha
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