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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Patriarcalismo nojento

Eu tenho uns textos publicados no Recanto das Letras, com meu nome completo, e lá eu tinha uma seção só de poemas eróticos, que acabei tirando de lá. Pois eu acho muito triste ter que ter me submetido a esse tipo de censura. É muito triste não poder falar abertamente sobre certas coisas. É de uma tristeza profunda vivermos numa sociedade tão puritana, de uma tristeza que beira o mórbido. E várias pessoas já me chamaram de mórbida. Talvez seja exatamente por isso. Porque eu tenho que priorizar o instinto de tânatos em detrimento do de eros diante de uma sociedade neurótica na qual, por mais que o falo esteja simbolicamente colocado no pedestal de forma explícita, se a gente fala em falo, a gente está errada, a gente é vista como prostituta numa sociedade em que isso é "uó", sendo que esta talvez seja mais uma forma do homem reprimir a mulher, porque, numa sociedade em que tudo é vendido, em que só faltam nos vender o ar que respiramos, qual é o problema de se vender o corpo? Qual é o problema de cobrar pelo que falam que "damos" de graça, sem às vezes recebermos nada em troca, às vezes nem o mínimo prazer? E assim transformam em crime o que talvez seja uma forma legítima de emancipação da mulher. Se um homem vender cocaína, ele não descerá tão baixo no julgamento da sociedade, só porque ele é homem. Mas uma mulher que vende o corpo é vista como o "mal encarnado", o pior dos seres.

Eu nunca fiz sexo em troca de dinheiro, muito pelo contrário, quase todos os meus namorados eram pobres, eu nunca me relacionei com alguém buscando ascender socialmente através disso, como muitas mulheres fazem, e ainda assim são bem vistas - e essa também não é uma forma de se vender? Só porque fizeram uma cerimônia na igreja, não são prostitutas? Porque um ritual "purificou" o ato? Eu nunca fiz esse tipo de coisa, e ainda assim fui estigmatizada, porque falei de algo tão natural e tão inerente ao ser humano, algo que todos fazem, que, mesmo que não tenham feito, pensaram em fazer, porque isso é fisiológico e não adianta lutar contra algo que está enraizado nas nossas células, no nosso corpo, na nossa carne.

É muito triste ser castrada dessa forma. Sérgio Sant`Anna, em seus livros, descreve altas putarias, mas ele não é estigmatizado porque é homem. Mas as mulheres têm que escrever sobre florzinhas, se abrem um blogue pra falar abertamente sobre sexo não podem se identificar.

É quase como quando dizem que antigamente as mulheres não podiam gozar, e talvez ainda não possam, pois não podem falar sobre isso, não podem falar sobre seus corpos, sobre suas sensações, enfim, têm que calar a boca. E não dizem por aí que tem mulher que nunca sentiu orgasmo? Eu não duvido que isso seja verdade. É como já disse, cada vez mais percebo que tenho que falar o óbvio: as mulheres ainda são muito reprimidas, e ai daquelas que tentam questionar essa repressão, dar voz aos seus desejos ou fazer algo fora do que é estipulado para elas, que saem fora do seu quadrado desenhado com giz caucasiano: elas que permaneçam dentro dos limites que lhe foram impostos, e que não reclamem, e que também não gozem, porque, lembrem-se, esse é um privilégio masculino numa sociedade falocrata.

2 comentários:

Luis Eustáquio Soares disse...

helênica helena, vc tem toda razão, tudo é insípido, besta, intratável, nojento, mas penso, por outro lado, q há sempre o q podemos fazer, porque o mundo é imenso, proliferante, maior que o tudo humano insípido, besta...
b
l

Amana disse...

então vamos lá... a revolução começa na cama, mas não acaba nela.
todo dia é dia de pensar e refletir sobre isso.


perguntinha: vc já assistiu "Terra Fria" (North Country)? Vi ontem, estou preparando um texto sobre... Se não viu, pára tudo e vai na locadora pegar! bjsss