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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Por aqui

Só há um único caminho a ser traçado
mas sempre há também os que insistem em percorrer as margens
os trajetos paralelos
como moscas a pousarem
nos restos de alimentos
e nas bostas fétidas
e depois destas nos
alimentos a serem ingeridos
pela
boca humana,
ávida
goela sorvedoura
de sorvetes ferventes em caldas
viscosas.

Sempre haverá os que forçam a passagem
dos caminhos proibidos
condenados
e se precipitam
no abismo
evidente
dos caminhos indicados.

Todas as setas apontam para
UM.
Mas há sempre um andarilho curioso
ávido por novas veredas
do ser.
Grandes ou
pequenas
mas sempre aquela viela escura
entre barracos
e atravessada
pela fossa aberta
ou o deserto
como um grande trajeto
não delineado
todo ele uma estrada
refletindo em cada grão translúcido
o brilho do sol amargo
povoado assim
de milhares micro-espelhos
tagarelos
como farelos
evitados
pela ave faminta
que prefere os
corpos que se putrefazem
ao vento.

Cada micro-espelho
reflete um raio incandescente
formando
inúmeros poros transpirando
enzimas acrobáticas
de se satisfazerem
incontidas
pelo relevo
incauto
das dunas de farelos.

O deserto
como uma imensa
garganta.

O anti-caminho
dos caminhos.

Rasurado
pergaminho.

Como as flores mínimas
de cada pele incandescente.
Imensa pele dourada
descamando
brotoejas
insípidas.

2 comentários:

J.M. de Castro disse...

Sabe o que mais gosto nos seus poemas? As imagens que você cria."O deserto como uma grande garganta"!!! Além, claro, da carga inquietante que cada um carrega. Não é fácil ler os seus poemas. Eles nos desestabilizam de alguma forma, seja com uma imagem ou com uma frase crua com um semblante filosófico ou trágico, ou louco ou pulsional, ou maldito. Eles deslocam o nosso olhar, para qual paisagem?

Ricardo Almeida disse...

De volta aqui em meus descaminhos, sorvendo tua poesia visceral, que é tudo, menos ordinária!
beijos