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sábado, 12 de junho de 2010

Loba virgem

Eu sinto meu focinho açoitado pelo ventro frio, eu sinto o meu focinho! Minhas patas estão na neve. Eu toco as minhas patas umas com as outras, eu toco meu focinho com uma das patas, eu me toco toda! Nem que para isso eu use de minha língua eficaz! Pobres humanos, que não podem fazer sexo oral neles mesmos! Sou virgem, mas eu me toco. Me toco com o toco de madeira. E também já me diverti com muitos lobos por aí! Mas eles dizem que sou a "eterna virgenzinha" deles, não que eu não pegue fogo com eles, mas isso é conversa nossa, só entre os lobos! Dizem que uma humana homônima minha ouvia vozes e se matou, coitada! Espero um destino melhor pra mim, uma morte digna, ao caminhar na estepe, ser atacada por um predador e morrer para alimentá-lo. Afinal, a cadeia alimentar não pode parar e eu tenho consciência da minha existência transitória em função dela. Mas me atirar do alto de um penhasco, isso eu não faço, não! Dá, licença, queridos leitores, que vou me encontrar com o Lobo da Estepe, meu lobinho preferido!

Um comentário:

J.M. de Castro disse...

Haha...adorei o final. Me fez sorrir. Aquele sorriso já antigo que nos dão os grandes textos. Uma qualidade que acho que você faz inconscientemente quando escreve: nos dar o riso no meio da solidão, do desespero e da quase-morte. Uma positividade do riso no meio da negatividade do olhar. E que rosto surge dessa mistura? Qual fisionomia? Uma fisionomia de Loba. Um olhar afiado, agudo. Um riso entre os dentes, entre o desejo de caçar e o desejo de ser caçada. E o Lobo da estepe continua tecendo sua influência. Essa influência que depois da leitura é inconsequente pois não depende de nossa percepção. Uma vez você me falou que lia para se livrar do livro. Pois é,a verdadeira leitura nos pega no descampado da existência, na neve,na estepe, e nos devora, nos estraçalha, faz com que sejamos outro, vítimas de sua mordida: a cicatriz do lobo.