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domingo, 4 de abril de 2010

Fina e nossa

Em tudo eu sinto o gosto de nada
de sorvetes ocos, limonadas
de escassos limões, e mais e mais água
nessa antifesta
que é domingo de Páscoa
tecida com milhões de ocos ovos de chocolate
na sua concavidade
anticonvidativa:

Chocolate
que será
digerido
e
devidamente
processado
pelo tubo digestivo
e então
eliminado
numa diarreia universal.

E o manto de fezes de chocolate cobrirá o globo
com suas ondas marrons
e
nauseabundas
e
quem sabe
assim
afunda
nossos
mais
rasos
anseios
por
endorfina
(adquirida
tão
precariamente,
por chocolates
de má qualidade
que eles envolvem
em papéis coloridos
e brilhosos
e vendem
como se ouro fossem).

Ouro fosco
metamorfoseado
em cocô áureo
(dinheiro é convertido em
chocolate
que
se transforma em
fezes).

Dinheiro compra fezes.

Fezes douradas
que são o
resíduo indesejado
da nossa busca
por um
pouco
de
endorfina.

Endorfina
Endorgrossa
Exótica
ou
menina
Ela é um pouco minha.
Ela é um pouco nossa.

Pequena reação química
desatada
por pequena dose de açúcar via láctea
por heroína direto na veia
por espasmos freneticamente alcançados
e sempre
nos deixa
pasmos
diante do
abismo.

Pequeno sismo
subcutâneo
e
intracrânico.

Deusa-mor
e breve
sempre desejada
constante
e sucessivamente
ativada
por cada
trago
sem embargo
da sensação de tonteira
que a maré está cheia
e a nau balança
e assim o enjoo
os olhos baços
a pança cheia
o nó no laço
a náusea sã
da nau maçã
mordida crua
e o suco escorre
por entre os dedos...

Doce degredo.

3 comentários:

Unknown disse...

rrsss, belo texto, coral, de vendaval, amargo de doce e doce de amargo, como o fim do gozo, começo?
b
luis de la mancha

Unknown disse...

barroca expensão liricamente visceral, com as tintas do pincel cerebral, e já não sabemos se é fina, se é grossa, visto que grassa, rizomaticamente, alhures de aqui.
b
luis de la mancha.

O Neto do Herculano disse...

Imagens absolutamente sensoriais e sinceras, verborrágico e intenso. Na veia.