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terça-feira, 11 de maio de 2010

O menor

Eu vinha pela rua, sombrinha na mão, manga da blusa e barra da calça molhadas pela chuva que escorria do céu, quando avistei um menor encolhido na calçada. Continuei meu trajeto. A sombrinha atrapalhava um pouco o meu campo de visão e, quando dei por mim, o menor já estava ao meu lado. Ele falou qualquer coisa e depois disse: "Volta!". Eu, que tenho lido sobre a proteção aos meninos de rua, na minha ingenuidade não acreditei à primeira vista que se tratava de um assalto. Pensei que ele poderia estar querendo me proteger de algo sinistro que estivesse ocorrendo na continuidade do meu trajeto. Comecei a voltar e, como se o olhasse interrogando-o (a partir daqui não lembro exatamente a ordem dos acontecimentos), ele disse "me dá celular ou dinheiro". A partir desse momento, voltei outra vez ao meu trajeto original. Havia alguns transeuntes à frente, e o menor era impotente demais para fazer qualquer coisa contra mim. Não lembro se ele me chutou antes ou depois de eu ter dito que estava sem celular - e estava mesmo! -, mas foi um chute fraco, nem doeu. Desvencilhei-me dele sem maiores problemas. Por força das circunstâncias tenho lido sobre os problemas dos menores. Isso não me toca mais tanto assim. Mas, o menino que tentou me assaltar, não o odeio, mas também não o amo, talvez mal sinta pena dele, se sinto, é uma pena consciente, consequência das leituras que tenho feito, mas isso não toca meu coração, que anda adormecido ou cego (talvez meu amigo tenha razão: talvez ele - o meu coração - seja de pedra!). Mas, sinceramente, não desejo que esse menor seja internado no IASES, que, para quem não sabe, é uma espécie da antiga FEBEM, ou seja, o inferno! Tampouco vejo esperança para ele! Se pudesse, talvez até o adotasse, mas mal posso sustentar a mim mesma! Sim, é uma pena consciente: ele era só uma pobre criança!

4 comentários:

J.M. de Castro disse...

Um problema menor? Um problema que com o tempo os nossos olhos diminuíram?

Não sei...mas me veio uma ideia na cabeça, talvez seja só mesmo uma imagem porque não sei o que estou querendo dizer com ela...Mas voltemos às viagens de Gulliver...quem somos nós? Os pequenos que amarram O grande? Ou podemos inverter tudo? Somos O grande que amarra os menores...não sei o que quis dizer com isso...

Coral disse...

Mas eu sei o que vc quis dizer com isso: amarramos os menores com o nosso descaso, "o descaso que condena", como diz aquela música do Legião...

Coral disse...

"A violência é tão fascinante
E nossas vidas são tão normais
E você passa de noite e sempre vê
Apartamentos acesos
Tudo parece ser tão real
Mas você viu esse filme também.

Andando nas ruas
Pensei que podia ouvir
Alguém me chamando
Dizendo meu nome.

Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar o próximo é tão demodé.

Essa justiça desafinada
É tão humana e tão errada
Nós assistimos televisão também
Qual é a diferença?

Não estatize meus sentimentos
Pra seu governo,
O meu estado é independente.

Já estou cheio de me sentir vazio
Meu corpo é quente e estou sentindo frio
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber
Afinal, amar o próximo é tão demodé."

(Baader-Meinhof Blues, Legião Urbana)

Luciano Baptista Domingos disse...

As crianças estão jogadas por aí, e os verdadeiros vadios vem me dizer que o Brasil mudou. Boa reflexão. Estou sempre por aqui. Abraços Helena