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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Escravidão = prostituição

Mas, no final das contas, somos todos uns prostituídos, pois, por contraditório que pareça, temos que nos vender para ter alguma dignidade. Para que não reste dúvida quanto à máxima (na qual todos acreditam, a qual todos pregam, pela qual todos trabalham) que quero fazer vir à tona: só o dinheiro traz dignidade. Há uma frase que ouvi e que desconheço a autoria, pois foi uma citação que me disseram, que diz: "Só o trabalho traz a dignidade para amar". E nós trabalhamos para quê?

Afinal de contas, para amar é necessário no mínimo um lugar aconchegante, um lar, um motel, o que custa dinheiro. Para amar é preciso comer e ninguém se alimenta de luz, a não ser as plantas e não estamos falando delas, que não precisam de dinheiro para se reproduzir e nem para se alimentar (sorte delas!)

E além de prostituídos, somos todos uns escravos, obrigados a trabalhar, pois não temos outra opção (a não ser os aristocratas, esses parasitas!)

Somos escravos assalariados e trabalhamos para conseguir a carta de alforria (aposentadoria).

Enfim, esse é o nosso drama.

sábado, 10 de outubro de 2009

Heresia

Pessoas que me conhecem costumam dizer que eu tenho a mania de falar sobre um assunto quando ele aparentemente já tinha "morrido". Confirmando o que elas dizem, vou falar de uma questão sobre a qual, embora tenha causado polêmica na época de sua eclosão, ninguém fala mais nada.

A questão é a seguinte: quando aquela menina que era estuprada pelo padrasto desde os seis anos de idade engravidou de gêmeos e, com auxílio médico, abortou, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho disse que "Roubar, assaltar e estuprar também são pecados, mas não tão graves como o aborto".

Parece que o tal arcebispo tentou concertar tal frase depois de proferida, ou então eu li em algum lugar a opinião divergente de outro arcebispo.

Só sei que a Folha de S. Paulo - que não está me pagando nada - de 8 de março - ironicamente dia da mulher - veio com excelentes cartas de leitores indignados com a frase do arcebispo e também reflexões interessantes sobre o tema em seus editoriais, às quais venho somar, ainda que tardiamente, o meu  breve depoimento:

Não duvido que mulheres possam estuprar outras mulheres, crianças (de ambos os sexos) e / ou mesmo homens, mas, se o estupro é predominantemente masculino e o aborto, (não exclusivamente) feminino - homens podem ser coadjuvantes ou mesmo protagonistas de tal ato, independente de ser a mulher a geradora -, e se a mulher, perante a Igreja Católica, vale menos que o homem, então, para ela (a I. Católica) e para uma sociedade essencialmente patriarcal, é óbvio que o aborto é muito mais grave e condenável que o estupro.

É por essa e outras razões que sou, como Saramago, a favor do direito de heresia.


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Demagogia

http://caderno.josesaramago.org/2009/01/20/donde/

Não me surpreende que Barack Obama fale "de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida". Pra mim é mera demagogia. O que me surpreende é que o Saramago não tenha enxergado isso.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Pindorama

Hoje eu fui à Biblioteca Pública do Espírito Santo assistir a uma "palestra" (entre aspas porque parece que esse é um termo pejorativo na área acadêmica) de Gilbert Chaudanne que, com todo respeito que tenho por ele, deixou-me indignada ao dizer que "o Brasil começou do litoral", o que obviamente é uma perspectiva europeia. Parece que um conhecido (ou talvez amigo mesmo) dele que estava na plateia o lembrou dos indígenas (ele falou muito baixo, mas foi o que supus ouvir, na minha revolta), ao que Chaudanne respondeu: "ah, mas eles não dominaram o Brasil". Como não dominaram? Dominaram não o Brasil, certamente, mas dominaram Pindorama, que viria se tornar Brasil, à maneira deles. Acho que Mário de Andrade ficaria do meu lado.

Tirando isso, a "palestra" foi ótima. Anotei muita coisa, mas não tudo. Mas felizmente todas as apresentações do Chaudanne na Biblioteca vão ser publicadas.

Uma das coisas que mais me marcaram na apresentação foi a dicotomia que Chaudanne apontou que existe no Brasil entre litoral e interior, o que não existe na França, mas aí ele me saiu com a ótima "o interior é o inconsciente do Brasil".

Isso é só uma "palhinha". Quem quiser saber de tudo o que foi falado, é só ler a publicação que será lançada.

Mas como a fala da Rita de Cássia Maia, gerente do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Espírito Santo, não será publicada, aqui vai (sobre Os sertões, de Euclides da Cunha): "as agruras do sertão são materializadas numa linguagem precisa".

A Rita ainda disse, respondendo a uma pergunta de alguém da plateia, que Os sertões são um verdadeiro "tratado de sociologia, no patamar de um Casa grande e senzala", ao que Chaudanne respondeu que para ele se trata de uma "obra total", pois trata não só da sociologia, como da geografia, da história, da geologia e ainda é poesia (em prosa) e romance.