Nunca acreditei em Papai Noel! Meus pais bem que tentaram, fizeram de tudo pra que eu acreditasse, mas não conseguiram. Eu já não acreditava mesmo e (depois de outras tentativas frustradas de nos enganar - a mim e ao meu irmão) quando meu pai se vestiu de Papai Noel, bem, na época não existiam tantos recursos, ele era magro e nem colocou uma almofada na barriga, e no rosto pôs uma daquelas toscas máscaras de plástico que ficam presas na cabeça por um elástico fino. Do lado da máscara dava pra ver a barba do meu pai. Eu era uma criança esperta, isso não passou despercebido por mim.
Mas meus pais me ensinaram a acreditar em Deus e nele eu acreditei. Pois bem, não é a mesma coisa? A lógica não é a mesma do Papai Noel? Uma mentira que nos contam para nos confortar. Ontem pensei nisso e senti a dureza de quem está deixando o casulo da ingenuidade. Pois quando acordamos da ingenuidade, sentimos um peso opressor. E a falta de Deus dá o peso da total responsabilidade por nossas próprias vidas também, a responsabilidade sartriana.
Essas reflexões me fizeram lembrar do livro Alegria breve, de Vergílio Ferreira, que gira em torno dessa questão do ateísmo e da aridez da vida, e tem um personagem que fala justamente do Deus da infância, ou seja, Deus é coisa de criança. Uma ideia bonita, motivadora, mas, como disse Dawkins, um delírio.
Bem, desde o meu primeiro blog do google eu demonstro essa crise religiosa, mas a verdade é que, embora pela via da razão eu tenha que concordar com Dawkins, eu tenho um "sexto sentido" que às vezes se torna muito apurado. "Deus" não estou bem certa que existe. Mas existe algo sobrenatural, sim. Eu posso senti-lo como vejo ou escuto. Existem aqueles filósofos que dizem que não podemos confiar em nossos sentidos... mas se é ilusão isso que sinto, então também é ilusão o que vejo ou o sabor que minhas papilas gustativas captam.