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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Dama de copas

E ela era tão insegura que não conseguia sustentar suas inúmeras estrelas, e o medo surgia ramificado de suas entranhas de onde brotavam fezes ocas, e ela se escondia por trás da imagem bidimensional da dama de copas do baralho velho e sujo.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Premilho

se eu viro fóssil
tão fácil
quanto você faz ostra
fixo o fato no falo
e falo com minha falange
finjo que me firo numa fuga constante
e fico fatal feliz
fugaz fatiga
Roda gigante
Velha cantiga
De milho a canjica
no papo após
o aperto.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Inverossímil míssil

O cio no ócio é fóssil
o seu ódio faz lançar míssil
a hóstia se desfaz na língua
enquanto o padre celebra a missa
que eu não vou mais aos domingos.
De fé não tenho mais nem um pingo
ou tanto quanto um flamingo:
o ritual agora
é inverossímil
e inassimilável.

terça-feira, 10 de junho de 2008

da igreja barroca o reboco
do índio brasileiro o botoque
da cabeça da velha o coque
do ingresso do filme o troco

do palácio real o trono
da almofada macia o botão
do lanche da tarde o pão
da cama à noite o sono

da cabana do índio sem dono
do jantar da noite insosso
da coxa de frango o osso
do salário nosso o abono

da esfera fria e lisa
escorre o escuro dos metais.
o cabelo da menina eu corto
com punhais.
por baixo de sua pele de onça
via-se sua mente insana
cabelos desgrenhados
dentes encavalados:

nascida de parto prematuro
nem olhou pra trás
depois que pulou o muro.

Correu vinte léguas para encontrar a praia:
nadou, boiou e tirou a saia:
respiração ofegante
e de repente uma onda
que ela não soube enfrentar.
Girou na espuma, ralou no fundo
bebeu água e morreu no mar.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Aos 4 ventos

estou com uma doença crônica
que me deixa muito auto-crítica:
censuro minha orquestra sinfônica,
bloqueio meu forró sanfônico.

tal estado é tétrico:
uma ditadura mórbida

preciso de coragem rápido
movida a energia eólica.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Always in my head



quadro de Fabrini, pintor brasileiro que vive na França

quarta-feira, 4 de junho de 2008

segunda-feira, 2 de junho de 2008

na seqüência lusófona...

Tive um poema de amor
Na mão aberta
Quis com ele construir
Uma mesa
Uma jarra
Um assobio de perturbar
Fantasmas.
Abriram-me os dedos:
Caiu no chão um montão de palavras
Inabitáveis.

(Egito Gonçalves)

Anjo

(Teresa Balté)

Não o pombo futurista mas a sombra
no ângulo vazio a folha de hera
e as orquídeas brancas na garganta
a vertigem do grito o labirinto a lâmina

as aves que evoluem não regressam
devoraram o espaço onde existiam
assinalam agora outras galáxias
cicatrizes rosáceas

a asa é o recanto da memória
o vértice onde o corpo não pesou
agora só gorjeio a harpa morna
musgo nos olhos o anjo de granito
"Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja,
que o absurdo, mesmo em curtas doses,
defende da melancolia e nós somos tão propensos a ela!"

Alexandre O’Neill, poeta português