O que foi feito daquela garota que ontem na cafeteria passava patê com a espátula como se esta fosse um cinzel e a torrada uma escultura? Ao seu lado, sobre a mesa, o romance Frango xadrez, de Varvara Angel. Teria ela já lido a parte em que Roscardo se suicida? Como teria reagido à leitura deste episódio? A cabeça inclinada para a frente, concentrada no minucioso trabalho com o patê e as torradas, e um cacho pendendo de lado, anelando-se em espiral. Era possível ver, sob a blusa branca, um sutiã rosa claro, não tão claro, cor de batom. No chão, encostada na cadeira, uma bolsa flácida. Mas meu celular tocou e enquanto eu me concentrava na conversa, ela saiu sem que eu me apercebesse. Ela esqueceu um maço de cigarros que escorreu de dentro da bolsa que fora pousada delicadamente (eu vi, quando ela chegou) no chão. Eu nem sei seu nome, e nem fumo, mas enquanto a homenageava, à noite, em meu quarto, acendi um dos cigarros do maço esquecido.
Um comentário:
Hehehe...
Gostei.
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