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domingo, 17 de abril de 2011

O individualismo reina

Quando eu tiver 70 anos e for andar de ônibus, serei feliz. Pois os velhos, nos ônibus, são os únicos que conversam entre si, sendo desconhecidos.

Na "ala jovem" do ônibus reina o individualismo. Cada um com o seu phone no ouvido, ouvindo rádio ou MP3, através de celular, smartphone ou MP3 player, o que seja, ou vendo vídeos em seus MP4, IPod (se é que estes ainda existem!) ou smartphone, ou lendo livro ou jornal. Se não está fazendo nada disso e a pessoa ao lado também não (supondo que são desconhecidos entre si), nenhuma das duas partes puxa conversa - poderia ser sobre política, que deve ser discutida sim, é claro, se os dois ou mais interlocutores souberem conversar sem alterar o tom de voz nem querer impôr suas opiniões e se souberem ouvir a opinião do(s) outro(s) também, argumentando educadamente (esse tipo de conversa costuma ser super construtiva); poderia também ser sobre o último "pop star" que apareceu nos noticiários por ter cometido um crime bárbaro, o que costuma ser assunto da programação da TV por, no mínimo, uma semana; poderia ser sobre a quantidade absurda de pessoas que eles "socam" dentro de um ônibus (aliás, para se estabelecer qualquer comunicação, é preciso estar sendo transportado em condições dignas, de preferência se você tiver a sorte de ter conseguido sentar, ou, em pé, se não for em horário de pico. Caso contrário, talvez você nem consiga falar pois sua boca estará prensada contra as costas de um passageiro, única forma de conseguir se acomodar. Quem disse que "dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço", nunca andou de ônibus); enfim, se você tiver o privilégio de estar sendo transportado de maneira digna, poderia conversar sobre qualquer assunto que mostrasse que você reconhece que ao seu lado está uma pessoa como você, seja ela negra, mulher, gay - o que for.

Mas eu já notei que é assim aqui, em Vitória e Vila Velha - ES. No estado do Rio, onde eu morava antes, pessoas desconhecidas puxavam conversa comigo.

Em Vitória, as pessoas são exatamente o que é interessante para o capitalismo que elas sejam: individualistas. Não preste atenção às pessoas que dividem o mesmo ônibus que você, você é superior a todas elas, elas não merecem a sua atenção.

Isso é interessante para o capitalismo, afinal, pessoas, agindo assim, sentem-se sozinhas - claro! - e, angustiadas, consomem mais - também para mostrar aos outros aos quais elas são superiores que elas têm um smartphone (para se isolar cada vez mais). Aliás, pegando só a função de celular do smartphone, o celular nasceu para isso. Tem um amigo ao seu lado e você liga do celular para falar com outra pessoa, para mostrar ao seu "amigo" (entre aspas porque esse que ligou do celular não é amigo desse infeliz coisa nenhuma!) que ele está em segundo plano.

Pessoas, andando nas ruas, falando em seus celulares, querem mostrar aos  que estão ao seu redor que são importantes - ocupadas, requisitadas, populares - e, assim, essas pessoas ficam imersas numa bolha e não tem nenhuma relação de empatia por quem divide a rua com ela.

Por que pessoas desconhecidas, nas ruas, não se dizem "Bom dia!", "Boa tarde!"? Seria tão mais agradável caminhar nas ruas...

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