NOS BECOS DA WEB...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uma vida de perdas

A gente começa perdendo o útero. Depois, a gente nunca mais para de perder...

domingo, 24 de abril de 2011

Era quase possível que ela sobrevivesse, pois as hemorroidas estavam se proliferando secas contra a pele nauseada, e o calor se alastrava como se o verão fosse uma estação única que durasse o ano todo, única estação em que o trem parava quando não descarrilava no caminho, e os trilhos eram sempre tortos, por isso conduziam aos espasmos frenéticos dos ventos insalubres. A escassez da água desidratava as goelas ávidas e sedentas e a terra seca que antes tinha sido o leito dos rios esfarelava-se em poeira seca e áspera feito um sertão marejado por ostras e o ostracismo dos minerais que se escondiam nas cavernas resvalava a bernardos-eremitas, que já tinham abdicado das crostas calcáreas de seus ventres intumescidos com trovões esparsos de cubos de gelos calcáreos e nevoentos como espumas na banheira de mármore e pedra-sabão, que faz economizar sabonete e raspa o sebo dos corpos feito uma espora que picasse nossas ventas esfumejantes.
Estou surda, pois
não tenho escrito poemas.
E assim como vou comê-los
com creme de leite?

domingo, 17 de abril de 2011

O individualismo reina

Quando eu tiver 70 anos e for andar de ônibus, serei feliz. Pois os velhos, nos ônibus, são os únicos que conversam entre si, sendo desconhecidos.

Na "ala jovem" do ônibus reina o individualismo. Cada um com o seu phone no ouvido, ouvindo rádio ou MP3, através de celular, smartphone ou MP3 player, o que seja, ou vendo vídeos em seus MP4, IPod (se é que estes ainda existem!) ou smartphone, ou lendo livro ou jornal. Se não está fazendo nada disso e a pessoa ao lado também não (supondo que são desconhecidos entre si), nenhuma das duas partes puxa conversa - poderia ser sobre política, que deve ser discutida sim, é claro, se os dois ou mais interlocutores souberem conversar sem alterar o tom de voz nem querer impôr suas opiniões e se souberem ouvir a opinião do(s) outro(s) também, argumentando educadamente (esse tipo de conversa costuma ser super construtiva); poderia também ser sobre o último "pop star" que apareceu nos noticiários por ter cometido um crime bárbaro, o que costuma ser assunto da programação da TV por, no mínimo, uma semana; poderia ser sobre a quantidade absurda de pessoas que eles "socam" dentro de um ônibus (aliás, para se estabelecer qualquer comunicação, é preciso estar sendo transportado em condições dignas, de preferência se você tiver a sorte de ter conseguido sentar, ou, em pé, se não for em horário de pico. Caso contrário, talvez você nem consiga falar pois sua boca estará prensada contra as costas de um passageiro, única forma de conseguir se acomodar. Quem disse que "dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço", nunca andou de ônibus); enfim, se você tiver o privilégio de estar sendo transportado de maneira digna, poderia conversar sobre qualquer assunto que mostrasse que você reconhece que ao seu lado está uma pessoa como você, seja ela negra, mulher, gay - o que for.

Mas eu já notei que é assim aqui, em Vitória e Vila Velha - ES. No estado do Rio, onde eu morava antes, pessoas desconhecidas puxavam conversa comigo.

Em Vitória, as pessoas são exatamente o que é interessante para o capitalismo que elas sejam: individualistas. Não preste atenção às pessoas que dividem o mesmo ônibus que você, você é superior a todas elas, elas não merecem a sua atenção.

Isso é interessante para o capitalismo, afinal, pessoas, agindo assim, sentem-se sozinhas - claro! - e, angustiadas, consomem mais - também para mostrar aos outros aos quais elas são superiores que elas têm um smartphone (para se isolar cada vez mais). Aliás, pegando só a função de celular do smartphone, o celular nasceu para isso. Tem um amigo ao seu lado e você liga do celular para falar com outra pessoa, para mostrar ao seu "amigo" (entre aspas porque esse que ligou do celular não é amigo desse infeliz coisa nenhuma!) que ele está em segundo plano.

Pessoas, andando nas ruas, falando em seus celulares, querem mostrar aos  que estão ao seu redor que são importantes - ocupadas, requisitadas, populares - e, assim, essas pessoas ficam imersas numa bolha e não tem nenhuma relação de empatia por quem divide a rua com ela.

Por que pessoas desconhecidas, nas ruas, não se dizem "Bom dia!", "Boa tarde!"? Seria tão mais agradável caminhar nas ruas...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Revolta

Depois a gente fala em "ditadura exercida pelos meios de comunicação" e as pessoas acham que a gente está inventando! Acaba de passar no Jornal Nacional notícia sobre a lei que os vereadores de Vila Velha aprovaram para proibir passageiros em pé nos ônibus, e a reportagem só mostrou pessoas falando contra a lei! Não é possível que a população seja contra ela mesma! Não é possível que um professor de uma universidade federal seja contra a população!

Não dirijo, ando de ônibus e conheço muito bem a condição de "sardinha enlatada" dos passageiros de ônibus. O professor da UFES entrevistado (sorte dele que não lembro seu nome!) perguntou quem vai pagar as contas... pois bem, moro em Vitória - ES, cidade vizinha de Vila Velha, e em Vitória a passagem de ônibus que só circula dentro da cidade é dois reais e vinte centavos. Um trabalhador que use o ônibus de segunda a sexta, para ir e voltar do trabalho, gera um lucro mensal de mais de 90 (noventa) reais. Multiplicando 90 (e estou arredondando para baixo) por 40 (quarenta) passageiros (também arredondando para baixo e considerando ônibus simples, e não geminado) dá 3.600 (três mil e seiscentos reais). Considerando que o motorista e o cobrador recebam 2 salários mínimos cada um (e não deve ser isso "tudo"), sobra muito mais de mil reais para gastar com o combustível necessário e manutenção do veículo e ainda deve gerar um bom lucro para a concessionária (imagina o ônibus geminado! Dentro do município de Vila Velha não circula ônibus geminado que faça só o circuito dentro da cidade, mas estou estendendo a questão para o transporte coletivo intermunicipal - metropolitano -, para não citar nomes, no qual a passagem custa dois reais e trinta centavos e, pela quantidade de pessoas que o utiliza, sempre deveria ser geminado! E a lei deveria ser nacional e não municipal! É um absurdo mesmo a quantidade de pessoas que são "socadas" - empaçocadas - dentro de um ônibus!)

Como vão diminuir a quantidade e a intensidade de engarrafamentos nas grandes (e até médias) cidades, se não se investe em transporte coletivo?

sábado, 9 de abril de 2011

O quarto poder

Inicio essa crônica com uma pergunta dirigida diretamente à nossa presidenta: Dilma, a senhora, que lutou contra uma ditadura, não quer lutar também contra a ditadura que os meios de comunicação exercem, não só no Brasil, como no mundo todo? Os meios de comunicação disseminadores de boatos que eles mesmos inventam - de acordo com os seus interesses - e propagadores de uma ideologia de vida que prega que "consumir é o que há"?

Não sei porque aquele alarde todo quando da campanha que elegeu Dilma - católicos, por exemplo, repassando e-mails que diziam que a Dilma iria transformar o Brasil num país comunista e perseguir as religiões -, a Dilma não tem mais nada da marxista que ela foi - e isso é ruim. Obviamente que não sou a favor de se perseguir as religiões, apesar de todos os males que elas causam. Mas deveria, no mínimo, ser proibido todo o fomento à homofobia que elas engendram.

Deveria ser igualmente proibido a exploração por parte de algumas igrejas, exploração de gente pobre, que às vezes doa dez por cento de seus escassos salários para que seus pastores ostentem o mais extravagante luxo.

Voltando ao assunto dos meios de comunicação, os gestores destes morrem de medo que se crie uma lei que os regule, e isso é necessário - e, provavelmente, com essa lei, os produtos oferecidos pelos meios de comunicação se tornarão menos lucrativos - daí o medo. E eles falam em censura para desviar o foco, mas há lei para regular tudo, por que não pode haver lei para regular isso também?

Mas os gestores dos meios de comunicação são os todo-poderosos e querem que assim continue. Eles, que vivem submetendo a sociedade às suas próprias regras, não podem ser eles mesmos submetidos a outras regras, talvez mais justas ou - se o conceito de "justiça" é questionável - menos selvagens.