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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

À preferida ferida

À medida que o tempo foi passando
eu fui emburrecendo.
Eu era nova como uma ferida
aberta na carne da vida.
Mas taparam-me com esparadrapos.
E toda a riqueza da ferida
deixou de sangrar.
Os coágulos são de uma preciosidade saturada
Mas o jeito é se calar
e deixar a pele se regenerar
com camadas e camadas
de alienação.
A ferida é bela e sincera
mas a tapam
com curativos.
A ferida é limpa e honesta
mas a querem suja e feia
e suja e feia ela se torna,
maculando a previsível superfície contínua.

3 comentários:

J.M. de Castro disse...

A ferida é bela e sincera...disse tudo aqui minha amiga...hoje temos tanto medo da dor, né? Da cicatriz?

Morfina, Morfina, os nossos blogs em sintonia fina...

Mesmo que ocultemos a cicatriz ela cresce para dentro. E para essa talvez não há cirurgia. E como diz o Nuno Ramos nO Mau Vidraceiro: aceite a cirurgia.

À preferida ferida, sim. É ela quem nos dá um novo olhar para o mundo e para nós mesmos.

À preferida ferida, sim.

Luis Eustáquio Soares disse...

ferir e ser ferido, raspar a pele na pela do mundo, e nesse encontro desencontrado, produzir-nos, fazer poesia, sem se permitir reterritorializar pela castração soldadesca dos poderes fálicos, mas, em linhas de fuga, escrever o fora, desferindo o ferrão da vespa na orquídea de semear o ferrão da vespa na vespa do azul da orquídea por aí, e já não somos nós, somos nascimentos, acontecimentos. e que se dane o sofrimento, vivemos.
b
de la mancha
b
de la mancha

Maíra disse...

A cicatriz é a memória sensata da ferida.