Eu sou uma leitora naïf, não sou uma crítica literária, mas talvez um leitor naïf fosse exatamente o tipo de leitor que Hermann Hesse desejasse para a sua obra. Pois o mundo dos críticos está povoado de ateus, e os ateus não percebem certas sutililezas e, como o próprio Hesse falou, O lobo da estepe é, antes de tudo, um livro espiritual.
Sou tão naïf que me atrevo a falar de Hesse sem sequer ter lido uma biografia sua, nem mesmo na Wikipédia, que também não é uma fonte tão confiável assim. Mas, como dele também já li Sidarta, além dO lobo da estepe, é deduzível que ele tinha lá sua relação com a "mitologia" oriental. E tem um certo budismo - aliás expresso - nO lobo da estepe. (Eu queria conhecer mais o budismo, parece mesmo ser muito interessante!). Mas a mensagem que Hesse passa em Sidarta é que não é a favor de sermos escravos de uma ideologia - religiosa ou não - qualquer.
O que Hesse deixa a entender nO lobo da estepe que tem sua relação com a religiosidade asiática é a fragmentação da identidade, sendo que ele usou, muito antes de Stuart Hall, a literatura para falar o que Hall disse na teoria, em A identidade cultural na pós-modernidade. Aliás, O lobo da estepe é uma ilustração prévia perfeita dessa teoria.
Talvez a literatura, com seus péssimos exemplos, sirva para que não cometamos os mesmos erros de seus personagens, os quais, ao nos depararmos com sua decadência, devêssemos evitar seguir como inspiração, tomando até mesmo o rumo oposto. Pois o que Harry Haller foi, acima de tudo, foi um covarde! O pior é que esses péssimos exemplos são sempre sedutores, belissimamente construídos, com sua aura humana e com toda a poesia entorno. Mas era mais sensato que nos baseássemos no mais comum dos mortais, simples e feliz - se é que existe alguém feliz (se conhecer alguém nessa situação, avise-me, por favor!) - do que nesses seres extravagantes que trazem em si mesmo uma advertência de não os seguirmos como espelho. Espelho, aliás, é o que, como próprio O lobo da estepe deixa claro, precisamos para refletir a nós mesmos. Sempre.
Sem esquecermos que, apesar da covardia de Harry Haller, no final ele estava disposto a recomeçar tudo outra vez e fazer uma história diferente. Possibilidade da qual nunca podemos esquecer, estejamos nós aos cinquenta, trinta ou setenta anos. O livro passa essa mensagem, a de que mesmo que venhamos seguindo caminhos tortuosos, podemos a qualquer momento escolher novos caminhos. Ninguém está condenado pelo seu passado. Como nos diz o jogador de xadrez do Teatro Mágico: "E a pobre figurinha, que parecia ainda há pouco viver sobre a influência de uma estrela má, poderá converter-se no próximo jogo em uma princesa.". Mais palavras do próprio Hermann Hesse, dessa vez não travestido por nenhum personagem: "(...) a história do Lobo da Estepe, embora retrate enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção."
Já disseram que O estrangeiro, do Camus, é "uma espécie um tanto perversa de livro de auto-ajuda". O que talvez também se aplique a O lobo da estepe, com a diferença que, apesar de perversa, é deliciosa. Talvez a literatura seja, toda ela, não a auto-ajuda chinfrim que se vê por aí, mas auto-ajuda em forma de ficção, embora ela não tenha necessariamente que ter caráter pedagógico ou qualquer fim pragmático, podendo ser simples fruição estética.
Sem esquecermos que, apesar da covardia de Harry Haller, no final ele estava disposto a recomeçar tudo outra vez e fazer uma história diferente. Possibilidade da qual nunca podemos esquecer, estejamos nós aos cinquenta, trinta ou setenta anos. O livro passa essa mensagem, a de que mesmo que venhamos seguindo caminhos tortuosos, podemos a qualquer momento escolher novos caminhos. Ninguém está condenado pelo seu passado. Como nos diz o jogador de xadrez do Teatro Mágico: "E a pobre figurinha, que parecia ainda há pouco viver sobre a influência de uma estrela má, poderá converter-se no próximo jogo em uma princesa.". Mais palavras do próprio Hermann Hesse, dessa vez não travestido por nenhum personagem: "(...) a história do Lobo da Estepe, embora retrate enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção."
Já disseram que O estrangeiro, do Camus, é "uma espécie um tanto perversa de livro de auto-ajuda". O que talvez também se aplique a O lobo da estepe, com a diferença que, apesar de perversa, é deliciosa. Talvez a literatura seja, toda ela, não a auto-ajuda chinfrim que se vê por aí, mas auto-ajuda em forma de ficção, embora ela não tenha necessariamente que ter caráter pedagógico ou qualquer fim pragmático, podendo ser simples fruição estética.