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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Veneno engavetado

Só agora percebo o quanto de autodestruição existe no surrealismo. Mas ainda não estou bem certa se a autodestruição é realmente inerente ao surrealismo ou se coincidiu de eu ser ao mesmo tempo surrealista e autodestrutiva. Não me lembro quantos anos tinha quando me deparei com obras de Dali, numa exposição (o que me parece natural: diante de uma verdadeira obra de arte, não temos idade nenhuma, ou todas as idades ao mesmo tempo: uma sensação de eternidade nos perpassa).

Na ocasião, fiquei impressionada e admirei o que via. Creio que se me deparasse com tais obras novamente, novamente me impressionaria e provavelmente também as admiraria, mas com uma consciência diferente, talvez um certo receio ou um desdém (não um desdém proveniente da inveja, do despeito de não ter sido eu a criadora de magníficas obras, mas o desdém de quem se acha superior por não ser mais tão mórbida como provavelmente foi mórbido quem criou tais obras).

Nem sei como, com toda a minha ignorância a respeito do assunto, atrevo-me a falar sobre tais coisas, mas alguém me disse uma vez como se o próprio Dali considerasse o surrealismo uma doença, e no final da vida se sentisse curado. Nesse caso, suas obras são dignas por serem o testemunho e a terapia de uma doença que afinal foi curada, talvez pela própria arte que foi, nesse caso, uma supuração.

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